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Grupos indicadores

 

Grupos indicadores e sistemas de classificação


Apesar da objetividade na seleção de áreas para a conservação proporcionada pelos métodos descritos acima, a escolha do grupo biológico alvo para essas análises ainda possui muitos aspectos subjetivos. Geralmente a quantidade de dados (no caso em grandes escalas geográficas) disponíveis é o fator principal para a escolha desses grupos. Porém, nem sempre o grupo com maior quantidade de dados disponíveis é um bom “representante” de toda a biodiversidade da região.
Uma tentativa para solucionar essa questão é determinar que grupos biológicos são bons indicadores (surrogates) da biodiversidade como um todo. Para tal, o grupo indicador deve, ao máximo, representar a biodiversidade dos grupos que não foram analisados pelos métodos de planejamento sistemático de conservação. A maneira mais usual de determinar esse nível de representação é verificar a relação entre os padrões espaciais de riqueza de espécies e as respectivas raridades para diferentes tipos de grupos biológicos. No entanto, essa relação não necessariamente indica o quão efetivo o grupo é na representação, em termos de conservação, de outros grupos de organismos. Para avaliar essa questão, Pinto et al. (2008) analisaram 29 grupos taxonômicos de aves e testaram como uma rede determinada para um grupo focal (i.e. um dos 29 grupos pré-estabelecidos) representou os demais grupos de aves e verificaram que características ecológicas desses grupos estariam correlacionadas com a capacidade de representação.
Os resultados indicaram uma maior relação entre a riqueza de espécies totais e a riqueza de tiranídeos (r = 0,97). Os melhores modelos que explicam a variação espacial da eficiência dos grupos estão associados às seguintes características (em ordem decrescente): i) riqueza das espécies que dependem de habitats florestais; ii) riqueza de espécies, diversidade beta e proporção de espécies dependentes de habitats florestais e iii) riqueza de espécies, distribuição geográfica média das espécies e proporção das espécies dependentes de habitats florestais. Em função disso, o grupo de aves da família Thamnophilidae foi considerado o melhor indicador de todas as aves que ocorrem no bioma, pelo seu nível de representação (representando 93% do conjunto total de aves) e pela sua menor quantidade de espécies (54 espécies). A família Tyrannidae, por exemplo, representou 94% do conjunto total de espécies, porém possui um número de espécies muito mais elevado, o que dificultaria sua utilização como grupo-indicador.
Outro aspecto relacionado à escolha do grupo refere-se à correspondência entre os padrões de diversidade e outros indicadores ambientais, como, por exemplo, na classificação da paisagem. Silva et al. (2006) apresentaram uma classificação do Cerrado com base em características fitofisiográficas, e dividiram o bioma em cinco grandes unidades de paisagens, que seriam: i) planícies e os platôs bem-drenados dominados por savanas, e como tipos secundários da vegetação, florestas e gramados; ii) terrenos montanhosos dominados por savanas e, como tipos secundários da vegetação, florestas e gramados; iii) planícies dominadas por florestas, e como tipo secundário da vegetação, savanas densas; iv) planícies semi-decíduas ou totalmente verdes e outras florestas e v) planícies mal drenadas dominadas sazonalmente por savanas inundadas. Posteriormente, esses grupos foram ainda subdivididos em quinze unidades ecológicas, utilizando, para isso, um conjunto de 41 variáveis (tais como declividade, composição da vegetação, propriedades físicas e químicas do solo, etc).
Uma análise MRPP (Multiresponse Permutation Procedure) foi realizada com a ocorrência (presença/ausência) das espécies de Mamíferos, Aves, Répteis Squamata e Anuros no Cerrado para avaliar se a divisão fitofisiográfica de Silva et al. (2006) agrupa faunas mais semelhantes do que é esperado ao acaso. Os resultados mostraram que as distribuições dos quatro grupos respondem de maneira significativa à estrutura fitofisiografica, com um efeito relativamente pequeno para a divisão em 5 grupos (explicando cerca de 7,4% da variação), mas aumentado para cerca de 25% para a classificação em 15 grupos. Assim, a divisão de Silva et al. (2006) explica uma boa parte da variação entre assembléias dos diferentes grupos de vertebrados, o que significa que ela pode representar parte dos processos que originaram essa estrutura nas distribuições geográficas dessas espécies.

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