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Analise de lacuna

 

 

Análise de Lacunas


 

Margules & Pressey (2000) sugerem que os métodos de planejamento sistemático para a conservação considerem a existência de unidades de conservação pré-existentes. Essas unidades, na maioria das vezes, não foram estabelecidas de acordo com critérios objetivos, mas considerando a escassez de recursos destinados à conservação da diversidade biológica, as áreas já existentes não podem ser simplesmente descartadas. A análise de lacunas (gap analysis) tem como objetivo avaliar a eficiência de unidades de conservação já existentes em termos de representação dos alvos de conservação e, como base nos resultados, selecionar áreas que as complementem. A aplicação da análise de lacunas é dificultada pelo problema da resolução das unidades de planejamento e é preciso lembrar que, em geral, as áreas destinadas à conservação possuem dimensões reduzidas e não asseguram a manutenção de populações mínimas viáveis de determinadas espécies. Desta forma, o tamanho das áreas necessárias para conservar a biodiversidade aumenta em função do número de espécies que são consideradas “alvos” para conservação e principalmente com o nível de endemismo de espécies de cada região.
Neste contexto, algumas análises foram aplicadas por Diniz-Filho et al. (2008), tendo como alvo as 127 espécies endêmicas de vertebrados terrestres do Cerrado. Foram consideradas apenas as 33 unidades de conservação de proteção integral do bioma com áreas maiores que 10.000 hectares, que estão alocadas em 26 células da malha do Cerrado. Assim, assumiu-se que uma célula estaria “protegida” se ela contivesse pelo menos uma dessas unidades, sendo portanto incluída “a priori” nas soluções de complementaridade. Das 127 espécies endêmicas ao Cerrado, cerca de 20% (26 espécies) não estão representadas nessas células.
É possível também testar a eficiência da distribuição espacial das unidades de conservação já existentes em relação à distribuição das espécies analisadas. A questão a ser colocada inicialmente é: como um conjunto de 26 células do Cerrado, alocadas ao acaso, representaria as 127 espécies endêmicas? Assim, foram realizadas simulações no programa RRS (Random Reserve Simulation) que seleciona aleatoriamente um dado número de células em uma região, formando um sistema simulado de reservas ao acaso e contanto a proporção de espécies que estariam representadas nesse sistema. Esse procedimento foi repetido 10000 vezes e os resultados demonstraram que em apenas 1,9% das simulações o número de espécies representadas foi maior ou igual ao observado. Isso permite concluir que o sistema pré-existente de unidades de conservação no Cerrado é significativamente mais eficiente do que um sistema do mesmo tamanho estabelecido ao acaso. No entanto, o fato de uma espécie estar representada em uma unidade de conservação (neste caso, em um “célula”) não implica que a espécie esteja de fato protegida. Conforme já discutido em termos de hierarquia de análise, é preciso avaliar se há, em escalas espaciais mais finas, habitats adequados que mantenham populações mínimas viáveis das espécies e garantam sua persistência a médio/longo prazo.

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