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Conflitos de Conservação

 

Conflito de Conservação


Para o Cerrado, há uma correlação significativa entre riqueza e densidade da população humana (r = 0,471; P = 0,029 pelo método de Dutilleul) apenas para anfíbios, o que reforça a hipótese de que essas relações sejam causadas por efeitos de conhecimento da biodiversidade. Entretanto, é importante notar que a população humana pode não ser um bom indicador de conflitos de conservação. Balmford et al. (2001) discutem que a população humana seria um bom indicador (surrogate) de efeitos antrópicos na África por causa da agricultura em pequena escala. No Cerrado, entretanto, a população humana está altamente agregada em grandes centros urbanos (principalmente no centro do bioma, em Goiânia, na região do Distrito Federal e entorno, e nas regiões mais a noroeste do Estado de São Paulo). Portanto, é necessário lembrar que os impactos seriam gerados por uma ocupação agrícola recente, com elevado componente tecnológico, o que foi evidenciado para as espécies de aves da família Emberizidae que ocorrem na região do bioma.
As variáveis sócio-econômicas foram submetidas a uma análise fatorial por componentes principais com rotação VARIMAX e os três primeiros eixos foram selecionados para esse estudo (mapas apresentados na Figura abaixo). O primeiro eixo pode ser interpretado como a variação espacial da agricultura moderna (Figura a), enquanto que o segundo eixo indica a variação espacial das atividades de pecuária na região (Figura b). O terceiro eixo (Figura c) possui coeficientes elevados para as variáveis relacionadas com demografia humana. Esses eixos representam então a variação espacial na intensidade de diferentes aspectos de ocupação humana no Cerrado, sendo possível combiná-los em um único escore que indique a magnitude geral dessa ocupação. Assim, os três eixos foram somados e padronizados de modo a variar entre zero (ocupação mínima) e 1 (ocupação máxima). Esse novo eixo (Figura d), possui uma relação mais intensa com a riqueza de anfíbios do que somente a densidade da população humana (r = 0,749; P = 0,011 pelo método de Dutilleul).

Variação espacial dos escores dos três principais componentes de análises, divididos em: estrutura da agricultura moderna (A), da pecuária (B) e do desenvolvimento humano (C) e, por conseguinte, a padronização da soma dos tres eixos (D) expressando o nível de ocupação humana do Cerrado.


Outro aspecto interessante é que esse eixo combinado está forte e negativamente correlacionado com a proporção de remanescentes naturais de vegetação do Cerrado (ver www.lapig.iesa.ufg.br) nas células (r = -0,753; P = 0,004). Isso indica que o eixo combinado de ocupação humana expressa bem os efeitos antrópicos que seriam causados na diversidade biológica pela conversão de habitats naturais em antropizados.
Se a correlação entre riqueza de espécies de anfíbios e ocupação humana reflete tanto conhecimento como oportunidades de ocupação simultânea de ambientes naturais, deve-se levar em consideração esse aspecto para selecionar uma rede de unidades de conservação. Entretanto, a relação somente com riqueza deve restringir as oportunidades de conservação em assembléias estruturadas hierarquicamente, já que os procedimentos de complementaridade de áreas, de acordo com a composição de espécies, nem sempre geram áreas prioritárias para conservação em regiões de alta riqueza (ver na seção seguinte).       

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